quinta-feira, setembro 10, 2009

oração

Pai, mantêm a Tua Mão
sobre mim
guia-me,
ilumina-me,
alimenta-me,
a mim e a todos os seres
carentes da Tua Luz.

9-9-09

terça-feira, setembro 01, 2009

Check-Point Charlie

estado da viatura à chegada: com atrazo, timmings não cumpridos, descentramento, íman da bússula desmagnetizado.
andamento no percurso: desorientação, elevada perda de recursos seguindo por rotas inuteis.
nível de combustível: energia, de qualidade inferior, esgotada e sem reservas alternativas.
apresentação do motor: gripado, aos roncos e solavancos descoordenados.
circuito eléctrico: off, baixa voltagem, inexpressiva no andamento.
qualidade dos pneus: nas lonas, mecânicamente descalço.
aspecto da carroçaria: mole e amolgada, coberta pelo pó dos dias da viagem.
alcance de faróis e farolins: embaciados quando não fundidos, piscam mas nada alcaçam a não ser halos imaginários.
capacidade dos travões: nem há vestígios, travar é um acto desconhecido.
apreciação do condutor:...perdeu-se algures no percurso, adormeceu à sombra da azinheira.

Apreciação da prova: antes de sonhares correr aprende primeiro a andar.

segunda-feira, agosto 17, 2009

“assim no céu como na terra”



emoção no fio da navalha:
ficar quieto ou fritar,
a fritar e a aquietar.

pé nu sobre a lâmina
da rocha escarpada,
no cimo e no fundo
e nunca em lado nenhum.

golpe de asa que eleva
o que a alma devia ser,
fortaleza de osso e nervo
enclausura no corpo a medula.

no divino peito coração anavalhado,
a mando de uma mente
que sabe que mente,
subjuga os andarilhos da vida,
a quem o impulso amordaça.

a luz é neblina baça intoxicante
a vontade impura, por nascer.

que o sol nasça de manhãzinha
rompa negras correntes
e derreta armas que ferem,
abençoe a luz que penetra virgem
no interno olho de cada ser.

assim, esse ser renascido,
em metamorfose estrelar
retome coração, corpo e alma
e respire.



terça-feira, agosto 04, 2009


Eu sabia que um ser morreria

e sabia que outro nasceria,

da dor da morte

surge a vontade de nascer,

pela vontade se nasce vivo

sem vontade se é eterno morto,

no desejo de quietude

inrompes na vida inteiro,

em movimento descoordenado

te atropelas e jamais acharás

a porta que em consciencia tens que abrir,

na quietude e no vazio

te elevas e preenches de verdadeira vida,

por aí valerá o esforço de morrer

e a graça de renascer vivo.




terça-feira, junho 23, 2009

à Blue, nova amiga na C.-E.

Blue, fofocas frescas: Não fazes ideia de quantas vezes o Jotacê cai de cu gargalhando do esqueleto ao pêlo, cada vez que vê as imagens que se criam aqui representando-o de camisa de dormir de flanela, com um penteado à Bee Gees e olhos azuis, essa é demais ! engasga-se e tudo ! com as gargalhadas e com o fumo dos charros - a propósito, é por "nascermos" em carência destes mágicos fumos que desmemorizamos tudo o que foi combinado, previsto e devidamente orientado lá na praia dele, á volta da fogueira eterna. Claro que uma ressaca, quer dizer, uma vida assim, está na origem de muita dor de cabeça, ouvido desafinado, boca a saber a papel de musica e alucinações várias. 
E então, Ele passa os dias rindo, perdendo-se nas dunas do deserto do Paraíso, tropeçando nas imensas, grossas e coloridas rastas cor de chocolate e laivos violeta que encobrem, conforme balança a anca, a pele etíope do seu rosto magro, e inflama as avenidas das narinas para retomar a gargalhada, semi-cerrando em extase os olhos cor de noite de lua cheia. E eu compreendo-O, sinceramente olhos azuis, Blue...
AH, ele pediu para te dizer que aquela tarde que passaram juntos no óasis, foi bué da fixe ! 
dá notícias eu dou beijinhos !!
Cristina


sábado, junho 20, 2009

exercício de ILM, som de taças tibetanas, resposta à questão "cortar ou ficar?"


alerta, aprender o que não é evidente, repetindo,
atenção ao óbvio que esconde algo.
continuidade na impermanência, responder depois de escutar o inaudível.
o toque do gongo não se ouve debaixo de água, sente-se.
para lá do óbvio há algo mais que ainda não sei o que é.
estar atenta ao que não se ouve mas vibra, é aqui que está a mensagem,
conciliar e evoluir.
repete-se mas não é igual, é novo,
renovando avisos, acorda, age!
ainda que vás no caminho certo continuarás a receber avisos,
é esse o verdadeiro Amor.
se surgirem escadarias na tua frente, não fujas,
não é ainda a hora de subir.
mesmo que não oiças o gongo distante, 
ele continuará a vibrar dentro de ti, festeja!
o som vibra na altitude onde o ar é mais puro,
em baixo, no meio das pedras, recorda-o.
sempre terás dúvidas, sempre terás respostas.
fica e leva o som de ouro do gongo ao coração do outro.
no topo da montanha não há solidão, é lá que vibra o ar pleno de som.
no topo da montanha sorri, alguem estará tocando o gongo
para que o ar à tua volta vibre dourado.
enquanto caminhas perdida,
em cada passo no escuro que dás,
te nasce debaixo do pé a resposta
à pergunta que ainda não fizeste.

Cristina Dinis Roldao

quinta-feira, junho 18, 2009

Carência

So, you say it is “needing”,
never wanted to call it so,
it’s like assuming my weakness.
A woman like me would die
before assuming any kind of needy,
never such weakness.
For so long painted a self-portrait
of a wild horse ridding woman
but…so simple, so quick, so short
in a moment the horse is as hard as a cloud
as wild as a worm and so like nothing.
In this instant “needing” rides over me
and I’m no cloud, no worm, nothing
underneath the horse-power of need.
Yes, it is “needing”, it has always been “needing”,
wanted to disguise it of anything else
like strength, knowledge, whatever it was,
it was fake, a mask, a hide away,
never knowing that the beast
is right inside me.
Yes, you’re right and I don’t want you to be right.
I want the reality,
not a fantasy of wild horses to ride
or this silly being ridding clouds.
I don´t want,
I’m so sorry you’re right,
I’m so sorry you hurted me,
I’m so sorry you escaped from my heart
Like a horse trough out a dream
and I was left holding on to a cloud
that can never be ridden.
I’m so sorry the horse run away
from my awaken-dream
and turned all it’s power into “need".

terça-feira, maio 19, 2009

... e a resposta à pergunta que não fiz, é:

la vie est un feu, et on se brule pour une caresse

quarta-feira, maio 13, 2009

é isto que não percebo...

cansada até à medula como estou, da carência, da repetição, da cegueira, da obcessão, da fraqueza, da compulsão... porque me mantenho no mesmo registo, na mesma cadeia, na mesma corrente, roda dentada, passo parado, perdida e presa ao chão ?... Entra pela vista dentro, sem pedir licença, que não gosto de ser, estar, ter ou fazer conforme até aqui, logo saltita a solução catita, mudar, é tão simples, são só cinco letrinhas... Não será mudar para outros registos assentes noutras rodas dentadas, se calhar a grande mudança é conseguir passar a gostar de ser, estar, ter ou fazer conforme o que surge no meu caminho. Mas isso é a pura lei do acidente e sei que não posso querer isso para mim, além disso, não me satisfaz...caramba, se um murro resolvesse isto....

segunda-feira, maio 04, 2009

OK...prontos...não foi mau....

Puxando um pouco a nota para cima, podemos considerar os últimos dias como pequeninos passos na afirmação de "bom-dono-de-casa". Até que ponto foram passos voluntários e conscientes? Não foi um pouco como o rodopio do vendaval do destino e do acaso - a lei do acidente?

Estive lá, caminhei no seu sentido, desperta...mas não sei se foi um esforço inteiro e maduro...

Os centros mental e emocional continuam empanados por excesso de detritos, são ancoras para o corpo fisico que sonha ser etérico.Voar não é fácil, amarrada à vida.

quinta-feira, março 26, 2009

Sobreviver

A mente mastiga

a mesma chiclete de sempre,

chateia chupar esta

estucha sem gosto.

Pinote desarticulado

da raquítica mente

que esperneia parva

sonhando-se alada.

Hálito solar que entontece,

ilude a fibra da emoção

e no súbito vómito

soçobra e sucumbe no chão.

Repetido achaque,

mancha na vista deslavada,

verruga ventricular,

calor de arrepiar

que não aquece nem refresca.

Dado putrefacto

com que de novo me debato

e me mato na incompetência

da minha sobrevivência.

Insalubre sanidade.

terça-feira, março 24, 2009

Intenções que são só isso
não são Trabalho feito.
Da intenção é preciso ir á acção.
Silhueta a quem falta o corpo,
brisa sem movimento,
orvalho que não nutre.
Ficar a meio do Caminho é nada,
é apenas metade do caminho,
suficiente se não tens uma ideia
para materializar.
Armário povoado de ar límbico
onde nada é perfeito ou imperfeito
porque nada está cumprido.
Se cumprir uma tarefa é um objectivo válido,
alinhavar ideias, mapear momentos,
podem ser o ponto de partida.
É preciso continuar, inquestionávelmente ?
Onde colher os frutos
que hão-de nutrir a Vontade ?
Talvez a vontade seja um fruto
já nascido no corpo com que vim ao mundo.
Que chuva não caiu sobre esse fruto
que parece tão minusculo?
Incipiente seiva o gerou ? Nunca.
Opaca Luz o ilumina? Não creio.
Desajeitado o meu jeito de colher frutos.

Jasmim e Foxie

Vivemos em casa de duas senhoras gatas, a Jasmim, filha da D. Matilde, e a Foxie, que ainda mal abria os olhos e já não viu a mãe, desencontrada nalguma esquina da vida.
Na perspectiva felina é assim que acontecem as coisas, os gatos de vez enquando têm uns acessos rápidos e repentinos de paciência e lá permitem, prontos...vá lá....que alguns bichos-gente se sirvam das “suas” camas, edredons, sofás, roupa para engomar, pantufas, mesas, papeis importantes e o que mais por ali houver mesmo que tenha um ar muito arrumadinho ou limpinho. Ficamos-lhe tão gratos por isso que as consideramos mais e melhor que a alguns parentes, especialmente aqueles que não gostam de gatos!
Eu e o marido sempre tivemos este previlégio de conviver com bicharocos. Cheguei a ter um frango de estimação que era meio tonto e coxo, salvei-o de morte prematura quando coloquei á luz do sol da manhã o ovo que ele nunca mais bicava para nascer, já os irmãos andavam a esgravar “numa boa”, depois aqueci-o e massagei-o e sobreviveu.
Estive quase a ter um ouriço caixeiro que o meu pai me trouxe, não tivesse ele fugido no minuto em que o pai me foi buscar para o ver.
O meu marido, petiz, brincava aos cow-boys no campo com uma cabrinha, acho que ela fazia de indio.
Enquanto não tivemos filhos, tivemos gatos, que tinham os respectivos nomes bordados na toalha de banho.
Depois tivemos filhos e durante um certo tempo não se consegue ter mais nada.
Mais tarde, com os filhos um pouco mais “domesticados” e depois de algumas asneiras como comprar dois hamsters, um para cada miudo, e verificar passados dias que a fémea estava de esperanças, dez ou doze esperanças. Era um casal ! Os casais acasalam e no caso dos hamsters é quase um cenário dantesco, porque após o parto a fémea come os filhotes/ervilhas para voltar a acasalar.
Conseguimos deixá-los, em gaiolas separadas, na loja de um benovolente comerciante que os ofereceria a quem mostrasse interesse.
O “bichinho” dos bicharocos intensificava-se nos miudos e em mim, só o marido não apoiava esta tola ideia, pensando nos encargos, no trabalho e sujeira que esta opção acarreta, mas como estava em minoria.... Choramingando aqui e ali, com o apoio dos miudos sempre em afinado coro, uma pessoa amiga sabendo da gravidez não planeada da D. Matilde Siamesa por obra e graça de um casanova que não lhe largava a janela, convenceu-me a convencer o marido a adoptar 250 g de bichinho peludo. Não consegui convencê-lo mas passadas algumas semanas de amamentação foi roubada á sua mamã para entrar na nossa casa, é um casa de tótós concerteza !
A Jasmim pequenina, era cuidada com tanto desvelo como um bebé, toda e qualquer asneira que fazia era motivo de graça e conversa durante semanas. O minoritário marido estava a ficar mais apaixonado que o previsto e quando chegou a hora de ir de férias procuramos criteriosamente parques de compismo que aceitassem animais, são poucos mas encontramos, pode dizer-se que o mais recente elemento da familia definiu o destino das nossas férias. Não é especialmente sociavel, ou seja não é do género de se rebolar aos nossos pés para lhe fazermos festinhas, pelo contrário, prescinde bem de todo e qualquer contacto, se alguem insiste, recebe de imediato uma bofetada de gato, só para relembrar, excepção feita ao seu apaixonado, o marido, o tal que estava em minoria, só ele lhe pode fazer as festinhas todas que quiser....
Poucos meses passados, num dia chuvoso e frio, pelas 17.40 horas, que é a hora a que o meu filho chega da escola, tocou a campainha e quando abri a porta reparei que para além de encharcado, tinha um brilhozinho estranho no olhar e uma coisa não especificada que parecia uma bola achatada de pelo molhado, quatro patitas espetadas e que miava de susto, frio, fome. Passados alguns segundos de total confusão cheguei á conclusão de que era um gato, ou melhor uma gata !
Ainda de olhar esgroviado perguntei:
- Pedro, onde foste buscar este gatinho ? Nós já temos a Jasmim...e agora ?
- Estava no meio do passeio, perdido e assustado, olhei em volta e não vi nenhum gato com cara de mãe, se o deixasse lá, como estava tão perto da estrada ainda era atropelado ou atacado por algum cão ou ....
Devolver o aflito animal ao lugar de onde tinha vindo, era impossível, há que procurar soluções. O marido ficou á beira de um ataque de pânico, tinhamos pago um dinheirão no veterinário uns dias antes.... a Catarina sentiu os ventriculos todos misturados com as auriculas assim que a viu, cheirou-me logo que havia ali outra paixão gateza.
Fez-se um reunião de emergência, onde ficou claro que tinhamos que nos esforçar para não nos afeiçoarmos ao gatito porque a intenção era arranjar um dono que pudesse ficar com ele, entretanto podiamos dar-lhe um nome: estava tão magrinha, desguedelhada e sendo cinzenta, parecia mesmo uma rapozinha, por isso ficou foxie.
Demos-lhe banhinho, aquecemos-la, ela ainda tentou mamar nas maminhas da Jasmim, o que não foi possivel, mas a Jasmim acolheu-a tão bem, lambia-a e deixava-a aninhar-se para se aquecer. Procuramos leite para gatinhos bebés....e....iniciei uma excursão por todos os veterinários (existem vários) e lojas de animais para divulgar e apelar á adopção do bichinho. Quase todas as pessoas foram muito simpáticas mas não viam qualquer hipotese de ajudar. Entrei na NET e em vários sites informei da minha situação e da necessidade de arranjar um lar para a Foxie, também por aqui encontrei muitas pessoas simpáticas e igualmente interessadas em arranjar um lar para muitos outros bicharocos em necessidade.
Por mais que pusessemos o coração no bolso, a Foxie já nos tinha lançado um feitiço qualquer, talvez fosse o facto de se esconder dentro do armário dos cobertores ou atrás do frigorífico ou de não se deixar pegar por ninguem, não sei bem o que terá sido... Na Net as pessoas contactavam-me para saber se havia novidades, se a Foxie tinha tido sorte e se já tinha arranjado um lar, e três dias depois de ter chegado cá a casa, eu ia respondendo a estas pessoas, que sim, que tudo tinha corrido bem, a Foxie já tinha onde morar, em nossa casa !!
São muito diferentes estas gatitas, agora grrrrrandes, gorrrrrdas e peluuuuudas, ambas são pouquíssimo sociáveis, a Foxie foge de qualquer pessoa, se alguém “estranho” entra cá em casa, ela reserva-se ao seu espacinho dentro do guarda-fatos e ninguem a conseguirá ver a não ser que eu abra a porta deste para que as pessoas confirmem, que sim, de facto tenho um gato a viver dentro do armário.
É necessário referir que estas duas marotas abrem uma excepção da seguinte forma: A Foxie só não foge da Catarina e têm uma relação esquisita, diria de paixão, aliás ela diz que só se casa se a deixarmos levar a Foxie, que achará disto o noivo ?
A Jasmim, e ainda bem que eu não sou ciumenta, tem uma paixão pelo meu marido, o tal que não queria bicharocos cá em casa, marradinhas, cabeçadinhas e encostos felinos só o meu marido recebe, dorme ao pés da nossa cama, temos uma cama de gato cá em casa mas é só para iludir as pessoas mais sensiveis a estas situações, entretanto, por volta das 5.00 horas da manhã, ela enrosca-se doce e mole á volta da cabeça dele na almofada e vai mordiscando com toda a delicadeza uma pontinha de orelha, uma abinha de nariz, e digam lá se não há forma mais deliciosa de acordar.
De vez em quando queixo-me que um dia desses tenho que arranjar um gato que me faça miminhos, como se na verdade não fosse ao contrário, o prazer em fazer festinhas a um gato é especialmente nosso, para o gato não é particularmente importante, essa coisa das festas, desde que o pessoal não tenha dúvidas de quem é o dono da casa, que haja sempre comidinha e um lugar fofo e quente, seja onde for, onde dormir horas e horas de sono, tá-se bem.
Depois chegamos a um nível superior em que as nossas colegas de trabalho já sabem distinguir de quem são os pêlos de gato que têm na roupa delas, por isso de vez em quando surge:
- Olha, Cristina, tenho aqui no casaco um pelo da tua Jasmim, ou será da Foxie ?
Queira Deus que continuemos a ser contemplados com os seus pêlos durante muito tempo.

Cristina Dinis Roldao, 2-10-2008