No que parece ser uma agressão ao outro
o agressor e a vítima sou eu.
Se, cega, supunha ferir o outro, é em mim
que no fundo fura a faca suja.
Agride-me a luz da consciência ou o gérmen de algo dela
que me deixa ver que faço mal, reacção na contra-luz,
sei, penso que sei, que a agressão nunca mudará o outro,
o musculo não muda, minúsculo molusco,
e que a agressão que deixei nascer e, incapaz de conter,
soprei ao mundo, não me traz porque não tem
serenidade ou conforto algum.
Há tão pouco a fazer, quase nada, um tudo-nada,
a não ser respirar olhos nos olhos de quem agride
e entender a agressão, quer seja ou não, como uma brisa passageira,
o suspiro de uma mente pequena e obscura
(outra agressão? Que prisão…que liberdade?!)
Se algum dia esta mente minha chegar a ser educada
Que não se alvoroce, iluda ou espante com os gargarejos insalubres
doutras mentes e que a minha se para algo servir
que não seja para imitar e se influenciar dos vapores e fervores
de demais mentes dementes.*
* Fenómeno de recorrência: Há 25 anos atrás escrevinhei um lamento que também apontava o dedo a mentes dementes.
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