tagarelar, é o que farei aqui, falar à toa de tudo e de nada, brincar com as imagens, as palavras, as ideias, e reparar depois que o tempo passou e como passou.
segunda-feira, novembro 22, 2010
a musica é ponte que une o céu e a terra
dançar é dar à luz com alegria
é chamar por quem está
para lá do horizonte
ou mais além que a nuvem
corridinha mansa da lagarta centopeia
brilho laranja emana no verde no ocre e no azul
focinho rosa do ouriço pontiagudo
vestido de frutos do bosque
ligeiro dobra a esquina do penedo
lavado pela primeira chuva
luz que vibra sem se ver
fio suspendendo seres leves
como asas de borboletas
em elástico equilíbrio
fruto maduro que rebola
na encosta redonda de veludo quente
contorna silvestre erva dourada
pedra cúbica negra
pisada, dançada e atirada
alarve vozeiral estala no ar
magma borbulhando vermelho dourado
no coração do santo bento nu
no altar de pau e pano
sulco na terra compasso de pé na roda
à roda do fogo azul
peixe rosa que persegue o pescador
e o ama
pirilampo pato bravo e batuque distante
ardente desejo de assimetria
estar no lado oposto lá não aqui
origem do original aborígene
zangado na cidade dura
rígida e asfixiada
formiga que no didjeridoo
sopra as notícias para outros mundos
mãos cor de terra tépida
massajam uma lua laranja
prenhe de sumo e dias adiados
anca feminina que dança
em torno do eixo divino
como colinas que contêm o desassossego
do lago que deseja o mar
eco metálico no túnel
reflexo no espelho
ondas de som que as ninfas irradiam
agitam no âmago pequenos seres
nados em águas translúcidas
sob o olhar do peixe sábio e silencioso
pai dos oceanos
timbre de cítaras clamam
eu sou mas não sabem quem são
quinta-feira, outubro 28, 2010
questão: "qual é o meu lugar na aldeia?"
Água, da chuva ao rio.
céu azul, afago do vento.
paz e serviço.
pequenos animais com nome.
colorido costume.
longo ramo de bambu unindo dois pontos distantes na eternidade.
pedra polida pelos pés da lavadeira.
pontinhas das orelhas rosadas do bebé ancestral.
tessitura de serras adormecidas
como a minha face reclinada no colo de bicho-gente
de que ainda sou carente.
labareda laranja e meiga,
cheiro a sal e a terra.
sono solto abandonado.
casa na árvore jangada no rio
desejo dos sempre-garotos.
fruto maduro e maduro o corpo da velha menina.
brisas onde flutuam memórias e aromas.
No ar bailam agora palavras sem sentido.
gasto o gozo de querer e ter
pássaros, foguetes, nuvens e suspiros.
rampa de lançamento para o voo de aprendizagem
em renovadas vidas.
Cristina Dinis Roldão, 28-10-2010
domingo, agosto 29, 2010
Recorrência
No que parece ser uma agressão ao outro
o agressor e a vítima sou eu.
Se, cega, supunha ferir o outro, é em mim
que no fundo fura a faca suja.
Agride-me a luz da consciência ou o gérmen de algo dela
que me deixa ver que faço mal, reacção na contra-luz,
sei, penso que sei, que a agressão nunca mudará o outro,
o musculo não muda, minúsculo molusco,
e que a agressão que deixei nascer e, incapaz de conter,
soprei ao mundo, não me traz porque não tem
serenidade ou conforto algum.
Há tão pouco a fazer, quase nada, um tudo-nada,
a não ser respirar olhos nos olhos de quem agride
e entender a agressão, quer seja ou não, como uma brisa passageira,
o suspiro de uma mente pequena e obscura
(outra agressão? Que prisão…que liberdade?!)
Se algum dia esta mente minha chegar a ser educada
Que não se alvoroce, iluda ou espante com os gargarejos insalubres
doutras mentes e que a minha se para algo servir
que não seja para imitar e se influenciar dos vapores e fervores
de demais mentes dementes.*
* Fenómeno de recorrência: Há 25 anos atrás escrevinhei um lamento que também apontava o dedo a mentes dementes.
quarta-feira, maio 12, 2010
Liberta.
Liberta-te de ti,
abre mão e solta.
Solta-te!
areja a gaiola-mente,
enxota de lá os papagaios papagueadores
e os morcegos sugadores do Real.
Quando do fundo da caverna te disserem não,
grita sim.
Eleva-te!
Ir para a frente ou para trás nada te traz.
Possui nada,
no nada, nú, na paz e no poder
és quem te basta.
Acorda e vive.
Alimenta a tua Luz:
Olha-te de olhos abertos, lavados.
Encara a dor, sem medo
aceita a cura.
segunda-feira, fevereiro 15, 2010
"Julie & Julia"
pensar sobre várias coisas, umas mais pertinentes que outras.
o modo de estar de cada ser, a sua vibração no planeta, é tão importante.
a vocação de cada um, como a distinguir? é possível consumir os dias de uma vida e não vislumbrar sinal dessa vocação? ok, gosto de escrever, pode até ser importante para mim mas que importância pode isso ter para os outros? este subnutrido pseudo-blog pode responder algo a estas questões: compromisso, determinação e força de insuficiente frescura, insonça a acção e excesso de ilusão em clara de ovo batida em castelo. apenas de mim depende o passo para mudar.
let's see, bon apetit !