Se um dia
tudo o que existe existisse ao contrário,
como num calendário imaginário sem dias nem meses nem anos
apenas momentos de uma demente lógica,
os relógios não dessem nem vendessem horas
alarves grades de dura prisão
seriam memória de um tempo sem coração.
Se os anjos fossem nossos vizinhos
e nós etéreos e transparentes entes apenas estrelas cadentes.
Os pássaros voassem dentro de água
funda e plana, emplumados e destros,
os peixes nadassem dentro do ar
limpo e aberto, esguios e cintilantes,
e nós não andassemos com os pés no chão
cinzento e sólido que nos prende
soltos aéreos e vivos andassemos no ar azul
não andando sim deslizando
como o vento entre as fragas
e as nuvens nos eternos dias.
Se os astros as cores e os sabores
com humanas palavras falassem,
os humanos com emoções respondessem
na língua do silêncio e do secreto saber.
Se lutar fosse amar,
morrer fosse renascer,
parar fosse recomeçar
e tudo o que existe existisse ao contrário.
9 e 10 Dezembro 07
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